março 14, 2017


matar aos bocadinhos é mais fácil,
matar de uma vez suja tudo
deixa vestígios
deixa um peso enorme na consciência

e há sempre a questão do que fazer
com o moribundo
enquanto agoniza


e depois

com o cadáver do morto
ou seja
com o cadáver
que é condição de ser morto

matar aos bocadinhos tem outro requinte
em vez de dar veneno
diretamente
na boca da vítima

espalhamos à sua volta
alimento para os predadores

(quem diria)

uma pequena plantação
de comedores de gente


alimenta-los será sempre
algo bem visto

há que cuidar
que se domestique a
selvajaria

depois

bem depois

(já se está a imaginar)

é só esperar
ser paciente

e o fruto alimentado
irá
tão delicadamente quanto possível
devorar
todos o que estão à sua volta

corremos o risco
de que
pelo caminho
sejam comidos
uns quantos inocentes

mas
enfim

que fazer

serão apenas

coisas da vida



janeiro 03, 2011

Designer de Interiores com 10 anos de experiência

Procura local de trabalho onde possa exercer com dignidade toda a sua capacidade criativa.
Oferece um espírito polivalente e capacidade de multi-tasking, criatividade, espírito de iniciativa e a capacidade de ultrapassar qualquer tipo de obstáculos.
Conhecimentos teóricos, humanos e informáticos adequados à função de designer de ambientes.
Capacidade imaginativa adequada e uma mão cheia de conhecimentos satélite que podem suportar a função a que se candidata.
(Experiência em criação e gestão de projectos para espaços hoteleiros, restauração, bares e domésticos, design gráfico, cenografia para teatro. Ainda valências como actriz, dirigente associativa na área da industria cultural e incursões pela escrita).
Capacidade de sonhar acima da média.

setembro 02, 2010

o Sopro


Agora parece
que te coloco nas mãos a pétala perfumada.
Ergues o teu espanto com um iluminado sorriso

O ar rompe-se com o teu sopro,
E por fim
a pétala projecta-se num imaculado vazio
dos dias que se contam

daqui
em diante
em amanhãs sempre mais deslumbrados e brilhantes.

As mãos são tuas,
O sopro é teu
os amanhãs pertencem-te
a pétala

essa
apenas soprada
que se desprendeu das tuas mãos inseguras
enquanto me abraçavas com esse sorriso

a pétala
essa pétala
és tu

julho 14, 2010

Fantasia em volta de um cálice de Vinho do Porto


 
Ainda o copo poisava o seu rosto
no meu desejo, e já o tempo
imprimia a embriaguez nas
paredes cruas,

Acendo a vela que vela o corpo
e bailam comigo deuses,
raposas,
lobos selvagens em desafio,

Registo o tempo silencioso
Adormeço o corpo nos olhos
e grito todo o meu anseio

Aconteço assim, neste tom sem dom
neste resto sem nexo,
Provo vermelho, quente, híbrido,
honra, luxo,

Para sempre existo neste beber.

Bebo Porto, bebo corpo, bebo rosto,
memória do teu sabor, no meu
sem saber Ser.


(Atelier de Escrita com Prof. Mário Cláudio/2008)

junho 08, 2010

Este céu























foto de  Liyana Zainal 


Um céu ergueu-se no abismo de uma curta madrugada,
vestiu a janela ainda fechada e rolou o espelho devagar
Pendurou nuvens onde existiram silêncios e
enviou a brisa para que se aquietasse junto das velas aprumadas.

A hora era a de navegar.

Na vela que vela dentro
Na palavra que se olha de fora
No tempo certo,
no passo trémulo,
na força contida
Assim se ergue o espanto,
a hora é
a madrugada está
a luz acontece

inunda

abril 22, 2010

Silêncio























"Há um silêncio dentro de mim.
E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras."

Clarice Lispector

abril 19, 2010

Conceito de asa
















esquisso por Leonardo da Vinci

Ainda que eu com asas nascesse,
e que devolvesse à noite as madrugadas, voando.
Nenhum céu se dignaria a ser tão brilhante quanto
aquele que o meu horizonte sonhador vislumbra.
Esse conceito alado, trago-o no peito, vibrando.
Batendo a cada segundo de imperfeição que me habita.

março 02, 2010

Caminhos


Abre os braços para o sempre,
Não espera.
Pesquisa a brisa com tentáculos de conhecedor.
Não caminha.
É devagar que silencia cada anoitecer, com sua vaidade rasgada, com seus olhos de espanto e fome.
Voa pelos pequenos espaços por onde a sua grandeza se expande.
E no azul reconhece o tanto que ainda tem de crescer.

Silenciados os gritos, as revoltas e a sede.
Todo ele se dobra.
Um pequeno todo que se explica.
Ouve a brisa, respirando sobre ele aquela tão nova manhã.

janeiro 19, 2010

Why not?

dezembro 17, 2009

re-nascer


















Dentro mora o canto de uma cotovia que adormeceu, cansada de sol e poeira, encostou as asas ao seu estreito bico e mergulhou no silêncio de uma noite de inverno.
Em sonhos, as palavras visitaram-na, deixavam recados em papéis amarelecidos que o vento soprava a brincar.
Algures no fim da noite o sol prometia um dia, seguido de outro, tempos de cantar, de crescer...
Nunca chegou a abrir os olhos.
Um manhã, a primeira, limitou-se a acontecer...

agosto 05, 2009

e nem senhor dos meus domínios



Tenho asas de dragão,
e a boca cheia de água.
Sou senhor deste castelo de palavras
e desfaleço na sombra de um apenas.

Saberei governar os meus domínios?
Ninguém tem a cabeça cheia de sonhos e sobrevive ao pôr de um sol.



Som que vem do lado de lá dos dias que passaram, e hoje me acompanhou.

"E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.
"

E este fim é afinal de quem sempre Acredita!

julho 08, 2009

RE-CAMINHAR

























"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

Fernando Pessoa


Volto a este canto de mim,
por ventura o mais escuro,
com palavras de um outro que admiro como a um semi-deus.
Em busca das minhas, essas palavras perdidas
aqui tão dentro,
que precisam de encontrar o seu lugar.

abril 18, 2008

Requiem para um blog quase morto ou Talvez um dia as palavras voltem a morar aqui hoje estão só em mim

não escrevo a ninguém, deixei de dar notícias. ninguém precisa de saber onde me encontro, se cheguei bem, se vou partir, se mudei de rosto ou de máscara.
um pássaro, dois homens puxando redes.
até quando poderei suportar a minha própria ausência?
e a vertigem?

in O Medo, Al Berto


janeiro 29, 2008

Às vezes


























As letras não contêm palavras...

novembro 28, 2007

sei que não sei, às vezes entender o teu olhar

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

de Jorge Palma

julho 18, 2007

Iluminar

















Da sombra o corpo arrasta,
da pele o corpo sobra,
da vida o corpo implora,
do dia o corpo pena,
da sede o corpo verte,
da luz
essa luz
que luz,

da noite o corpo brilha!

junho 22, 2007

Tenho

um medo terrível da mediocridade...



























e facilmente adormeço sobre o assunto...

maio 28, 2007

Sonata nada poética em dia de trabalho exaustivo















consideração desta manhã: ser designer neste meu país é um pouco como vender a alma ao diabo... entregamos alguma réstia de criatividade que em nós possa existir a uma indústria de ideias obsoletas e pouco humanas. O cliente aprendido em tempos académicos como "O Cidadão" passa a ser "O Comprador"... tudo é sacrificado em função de intuitos mercantilistas... bem estar e projectar o amanhã... são apenas cenários esquecidos no caderno preto de outrora... o resto é fazer para alguém vender... em troca de um fim do mês com as contas pagas...

maio 22, 2007

Ainda há

o
















Sei de que cor é o céu que habitamos, e deixo-me tantas vezes a contemplá-lo. Muitas batalhas que ainda não me saíram do peito... tanto caminho para percorrer.

Desejo os teus passos, o teu abraço a marca na pele e no peito desta chama que me consome e me alimenta.

Eu e tu.
Neste (nosso) caminho!

maio 02, 2007

Mas Tu

NÃO!





Seja qual for o caminho que decidas seguir...


Nas tuas, as minhas...






abril 24, 2007



...

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...

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El Pensador (Paco Puyuelo)


"O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeria, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia."


Clarice Lispector, in "A Maçã no Escuro"

abril 17, 2007

Admiração



Meus olhos, famintos, não se cansam de te acariciar
Procuram sempre um novo ângulo pra te admirar
E sonham mergulhar na sua boca de vulcão
Provar todo o calor que há na sua erupção

Escorregar nos rios claros das margens dos teus pêlos
E encontrar o ouro escondido que brilha em seus cabelos
Devorar a fruta que te emprestou o cheiro
E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro

Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter

(Admiração -Paulinho Moska)


Eterna parece a tarde...

Vamos enganar o Tempo








(D. Quixote - Ilustração de Salvador Dali)



Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...

há vitórias e derrotas
apontadas em silêncio

no diário imaginário
onde empilhamos as razões para lutar!

Repreendo os meus fantasmas
ao virar de cada esquina


por espantarem a inocência
quantas vezes te odiei com medo de te amar...

vejo o fundo da garrafa
acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!


Vamos enganar o tempo
saltar para o primeiro combóio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses

Entre o caos e o conflito
a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais

somos meros transeuntes
no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais


Vamos enganar o tempo...


(Passeio dos Prodígios) por Jorge palma



enganar o tempo... repousar as armas... pegar nas armas... iniciar a luta... repousar na paz... encontrar abrigo... escapar à morte... designar a sorte... acreditar... enquanto houver estrada para andar...
Eu e Tu!

abril 16, 2007


The lovers - René Magritte
.
.
.
Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escon...dida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz
.
.
.
Minha voz minha vida, de Caetano Veloso

abril 13, 2007

The Killing Moon













photo by: Ron & Haemin Rapp






A partir de hoje não tens mais obrigações, Obrigações?
Viro-me do avesso e ainda assim não me mostro...
caminho de olhos vendados, caminho... ainda que me falte o chão, caminho...
incrédula das palavras... as palavras proferidas como punhais...
ainda que o chão me falte...
Sou...
a acreditar...

março 21, 2007

Transforma-se o amador na cousa amada
















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:
:


Dia do Teatro Amador . Dia da Árvore

Equinócio da Primavera . Dia da Poesia

*



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís de Camões


Muita M... meus Amores!!!
Estou sempre convosco, SEMPRE!

março 19, 2007

Tempo de Procurar Caminho













A La Recherche du Semeur de Rases, Janou-Eve Le Guerrier




"Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois 'eu' é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano. E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real."





Clarice Lispector, in 'A Paixão Segundo G.H'

março 14, 2007

dentro de mim













foto: Miles Aldridge

Fecho os olhos para que a vida desfile solitária.
Fecho os olhos porque é dentro de mim que te encontro!...

fevereiro 14, 2007

Percorrerei




















A. Rodin, O Beijo

Percorrerei
Por toda a pátria esquecida
Milhões de caminhos

Silêncios

Estradas

Da poeira farei alimento
E
Minha luz
Será o próprio vento
Que me empurra


Deixarei perdido
Todo e qualquer
Rasto de outro rosto

E

Cessarei
Quando te achar

Quando os teus olhos
Não mostrarem
Se não os meus


E na tua pele arrepiada
De encontro à minha

A água brotar
Como um aviso
Do fogo eterno que nos toma


Morro

Enfim

Em ti

Amor

Que me chamas!


J.

fevereiro 12, 2007

Do tempo




















a noite encontra-me sem ti...............................






o tempo










é











Infinito......................

fevereiro 02, 2007

Refém



























do Amor!




Refém (de Victor Ochoa)