novembro 28, 2007

sei que não sei, às vezes entender o teu olhar

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

de Jorge Palma

julho 18, 2007

Iluminar

















Da sombra o corpo arrasta,
da pele o corpo sobra,
da vida o corpo implora,
do dia o corpo pena,
da sede o corpo verte,
da luz
essa luz
que luz,

da noite o corpo brilha!

junho 22, 2007

Tenho

um medo terrível da mediocridade...



























e facilmente adormeço sobre o assunto...

maio 28, 2007

Sonata nada poética em dia de trabalho exaustivo















consideração desta manhã: ser designer neste meu país é um pouco como vender a alma ao diabo... entregamos alguma réstia de criatividade que em nós possa existir a uma indústria de ideias obsoletas e pouco humanas. O cliente aprendido em tempos académicos como "O Cidadão" passa a ser "O Comprador"... tudo é sacrificado em função de intuitos mercantilistas... bem estar e projectar o amanhã... são apenas cenários esquecidos no caderno preto de outrora... o resto é fazer para alguém vender... em troca de um fim do mês com as contas pagas...

maio 22, 2007

Ainda há

o
















Sei de que cor é o céu que habitamos, e deixo-me tantas vezes a contemplá-lo. Muitas batalhas que ainda não me saíram do peito... tanto caminho para percorrer.

Desejo os teus passos, o teu abraço a marca na pele e no peito desta chama que me consome e me alimenta.

Eu e tu.
Neste (nosso) caminho!

maio 02, 2007

Mas Tu

NÃO!





Seja qual for o caminho que decidas seguir...


Nas tuas, as minhas...






abril 24, 2007



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El Pensador (Paco Puyuelo)


"O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeria, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia."


Clarice Lispector, in "A Maçã no Escuro"

abril 17, 2007

Admiração



Meus olhos, famintos, não se cansam de te acariciar
Procuram sempre um novo ângulo pra te admirar
E sonham mergulhar na sua boca de vulcão
Provar todo o calor que há na sua erupção

Escorregar nos rios claros das margens dos teus pêlos
E encontrar o ouro escondido que brilha em seus cabelos
Devorar a fruta que te emprestou o cheiro
E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro

Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter

(Admiração -Paulinho Moska)


Eterna parece a tarde...

Vamos enganar o Tempo








(D. Quixote - Ilustração de Salvador Dali)



Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...

há vitórias e derrotas
apontadas em silêncio

no diário imaginário
onde empilhamos as razões para lutar!

Repreendo os meus fantasmas
ao virar de cada esquina


por espantarem a inocência
quantas vezes te odiei com medo de te amar...

vejo o fundo da garrafa
acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!


Vamos enganar o tempo
saltar para o primeiro combóio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses

Entre o caos e o conflito
a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais

somos meros transeuntes
no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais


Vamos enganar o tempo...


(Passeio dos Prodígios) por Jorge palma



enganar o tempo... repousar as armas... pegar nas armas... iniciar a luta... repousar na paz... encontrar abrigo... escapar à morte... designar a sorte... acreditar... enquanto houver estrada para andar...
Eu e Tu!

abril 16, 2007


The lovers - René Magritte
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.
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Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escon...dida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz
.
.
.
Minha voz minha vida, de Caetano Veloso

abril 13, 2007

The Killing Moon













photo by: Ron & Haemin Rapp






A partir de hoje não tens mais obrigações, Obrigações?
Viro-me do avesso e ainda assim não me mostro...
caminho de olhos vendados, caminho... ainda que me falte o chão, caminho...
incrédula das palavras... as palavras proferidas como punhais...
ainda que o chão me falte...
Sou...
a acreditar...

março 21, 2007

Transforma-se o amador na cousa amada
















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Dia do Teatro Amador . Dia da Árvore

Equinócio da Primavera . Dia da Poesia

*



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís de Camões


Muita M... meus Amores!!!
Estou sempre convosco, SEMPRE!

março 19, 2007

Tempo de Procurar Caminho













A La Recherche du Semeur de Rases, Janou-Eve Le Guerrier




"Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois 'eu' é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano. E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real."





Clarice Lispector, in 'A Paixão Segundo G.H'

março 14, 2007

dentro de mim













foto: Miles Aldridge

Fecho os olhos para que a vida desfile solitária.
Fecho os olhos porque é dentro de mim que te encontro!...

fevereiro 14, 2007

Percorrerei




















A. Rodin, O Beijo

Percorrerei
Por toda a pátria esquecida
Milhões de caminhos

Silêncios

Estradas

Da poeira farei alimento
E
Minha luz
Será o próprio vento
Que me empurra


Deixarei perdido
Todo e qualquer
Rasto de outro rosto

E

Cessarei
Quando te achar

Quando os teus olhos
Não mostrarem
Se não os meus


E na tua pele arrepiada
De encontro à minha

A água brotar
Como um aviso
Do fogo eterno que nos toma


Morro

Enfim

Em ti

Amor

Que me chamas!


J.

fevereiro 12, 2007

Do tempo




















a noite encontra-me sem ti...............................






o tempo










é











Infinito......................

fevereiro 02, 2007

Refém



























do Amor!




Refém (de Victor Ochoa)

fevereiro 01, 2007

Pela Paz




























uma iniciativa Alba e Alvaro

janeiro 30, 2007

Para a minha menina agora tão MULHER



Para ti AQUI










O que eu te desejo, na data em que completas tão ricos 22, é que a vida te brinde SEMPRE com momentos tão brilhantes e intensos como os que vivemos juntas no Palco.

Que sejas Intensamente Feliz!*

janeiro 22, 2007

Paciência




Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não paraEnquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saberA vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não...a vida nãopara)

Lenine

Dos sentidos



Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.


- Como quereis o equilíbrio?

David Mourão Ferreira

janeiro 19, 2007

os teus olhos


























E esse medo que me habita os dias,
que a encontres na rua,
que o seu ar misterioso e triste te inunde,
que as suas mãos te pareçam frágeis demais para continuarem sozinhas.

Que te sintas perdido nesse olhar.

E que nesse instante,
os teus olhos se percam irremediavelmente dos meus…

janeiro 18, 2007

Chegou virtualmente

"Entrei apressado e com muita fome norestaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são.Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:- Senhor, não tem umas moedinhas?- Não tenho, menino.- Só uma moedinha para comprar um pão.- Está bem, eu compro um.Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas malucas.Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.- Senhor, peça para colocar margarina e queijo. Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.- Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem? Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora.O peso na consciência, impedem-me de o dizer.Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.Então sentou-se à minha frente e perguntou:- Senhor o que está fazer?- Estou a ler uns e-mail.- O que são e-mail?- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários desses):- É como se fosse uma carta, só que via Internet.- Senhor você tem Internet?- Tenho sim, essencial no mundo de hoje.- O que é Internet ?- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler,escrever, sonhar,trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual.- E o que é virtual? Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar,apanhar, pegar... é lá que criamos um monte decoisas que gostaríamos de fazer. Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.- Que bom isso. Gostei!- Menino, entendeste o significado da palavravirtual?- Sim, também vivo neste mundo virtual.- Tens computador?! - Exclamo eu!!!- Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual. A minha mãe fica todo dia fora, chega muitotarde, quase não a vejo, enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, dizque vai vender ocorpo, mas não entendo, porque ela voltasempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia. Isto é virtual não é senhor??? Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino acabasse de literalmente"devorar" o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi navida e com um"Brigado senhor, você é muito simpático!".Ali, naquele instante, tive a maior provado virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

Casa


janeiro 16, 2007

deserto de mim




















Veste-se a noite de tempo... um tempo imenso e cortante.
Deserto de mim, onde não encontro o teu corpo que me abrigue






sou a espera e o desespero

abro a capa do tempo
e finjo a paciência infinita dos que são sábios



(nem sempre o que sinto é bom)
(nem sempre é bonito)




querer-te em mim a matar-me a sede
a atravessar este deserto em que habito sem ti


querer o corpo abandonado no meu peito
querer o agora, tão aqui
que amanhã não exista mais.
J.

Velho





O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve trás o olor fulgaz
Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de neon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom
Os filhos, filmes, livros, ditos como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal.

Caetano Veloso

janeiro 11, 2007

A que preço


"A definição de belo é fácil:
.
.
.
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é aquilo que desespera! "
.

Paul Valéry
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.
.
.
.
.

Somos todos culpados
.
.
.
.


TODOS!
.
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.

janeiro 08, 2007

Para provar que sou sublime


Fiz de mim o que não soube,

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti,

e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido,

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo.

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Alváro de Campos (F.P.)

janeiro 05, 2007

Nascer e morrer


Nesta terra infinita, neste horizonte deserto, nesta casa onde mora o corpo onde mora a alma onde moram os dias que habitamos. Sair das cinzas. Também,
porque não,
renascer... em mim, deixar que se veja, também, o lado negro com que por vezes me visto.